quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Entrevista
Via email, para subsídio do trabalho de TCC de Vinícius, aluno
de jornalismos da UNISA. 



1- Durante a década de 60, Glauber, ainda um rapaz de 20 poucos, já fazia muito sucesso com seus filmes e como precursor do Cinema Novo. Qual foi a importância de Glauber para o Cinema Novo? É possível imaginar o Cinema Novo sem o Glauber Rocha?


R - É importante salientar, quando Glauber finaliza seu primeiro filme, O Pátio (curta), ele simplesmente não mostra, por não ter gostado do resultado final. Glauber pensa em esquecer esta história de cinema e se dedicar ao teatro e a escrever. É justamente neste período que ele começar a ler as críticas de Walter da Silveira nos jornais baianos e fica sabendo das atividades do Club de Cinema da Bahia, dirigido pelo mesmo Walter. Glauber passa a freqüentar as atividades do Clube de Cinema (Cineclube) e Walter fica sabendo do seu filme e pede para ver o filme. Walter elogia muito o filme, identifica em Glauber um talento, mas não deixa de apontar falhas. Walter incentiva Glauber a continua a fazer filmes e lhe apresentar os primeiros filmes do Cinema Novo e do pré-cinema novo: Os pré-Cinema Novo, Humberto Mauro, Alex Vianny, Roberto Pires, entre outros. Do Cinema Novo, Nelson Pereira dos Santos, Roberto Santos, Linduarte Noronha, além dos cineastas e filmes Soviéticos e do Neo-Realismo Italiano. Glauber se integra ao Clube de Cinema da Bahia e participa da primeira Jornada Nacional de Cineclube, realizada em São Paulo em 1959, como representante daquele Clube de Cinema.



Glauber agora já é um cineclubista, começa a escrever nos mesmo jornais que Walter da Silveira escreve e começa a trabalhar em produções de cinema na Bahia, fazendo qualquer coisa. Viaja para o Rio de Janeiro, para conhecer  melhor como se produz cinema e conhece Nelson Pereira dos santos, sua grande admiração e fica conhecendo outros cineastas. De de lá, pede dinheiro para sua mãe para comprar um carro importado. Dona Lúcia. Sua mãe, manda um pouco de dinheiro, pois ele mente para a mãe dizendo que tinha ganho um pouco de dinheiro (não se sabe direito onde, se trabalhando ou na loteria). Com o dinheiro de sua mãe, Glauber compra uma filmadora Bolex movida a corda, manivela. É daí que surge a frase: “para se fazer cinema, basta ter uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”. 



Eis a primeira câmera adquirida por Glauber Rocha e que o inspirou a frase que ficou famosa nesta versão: "Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão".  Contra Plano da mesma câmera, pertencente ao acervo pessoal de Roque Araújo, depositada no DIMAS - Departamento de Imagem e Som da Bahia -, onde é funcionário. Roque é uma espécie de guardião da memória "particular do homem Glauber", e com ele participou de "quase tudo", é acima de qualquer suspeita um amigo fiel desta memória. 



R - A sorte lhe sorriu quando trabalhava como assistente de direção de Luiz Paulino e este, se rompe com os produtores do filme. Glauber então convence Rex Schendler a dirigir o filme iniciado por Paulino, far algumas alterações no roteiro e na prática faz o filme que estava na sua cabeça a partir da ideia original. Aí temos seu primeiro longa-metragem Baravento.




O Cinema Novo nasceu sem Glauber, ele foi seu maior entusiasta, o que poderia ser chamado de pai do Cinema Novo, chama-se Nelson Pereira dos Santos. Claro, o Cinema Novo não seria o mesmo sem a influência Glauberiana, mas com certeza existiria sem ele, mas isso é outra história de ficção.


2) - Atualmente parece que não vemos mais as características do Cinema Novo na produção nacional?


R – "Atualmente", ainda é muito recente para esta afirmação. Aqui no Brasil, até como forma de se livrar dessa herança, dizer isso causa polêmica. Fora do Brasil, os cineasta reclamam, porque eles, a crítica estrangeira, sempre fazem a comparação entre o Cinema Novo e o atual. A última tentativa de se falar disto, foi com o surgimento do filme “Cidade de Deus” do Fernando Meirelles, a professora e crítica de cinema Yvana Bentes, fez um trocadilho comparativo entre “Estética da Fome” presente no Cinema Novo, com a “Estética da Cosmética”, o pau rolou. 


3) - Como o cinema nacional vê a importância de Glauber atualmente?



R - Glauber é Mito e no Mito o que importa é a inspiração que dele vem e não o que exatamente ele fez. Até hoje, muitos críticos brasileiros e estrangeiros acreditam que o último filme do Glauber, ainda não foi entendido pelos críticos e especialistas, que dirá então pelo público. É um filme feito muito antes do seu tempo, sentencia alguns.




 4) - é possível dizer que ele está entre os mais importantes cineastas brasileiros de todos os tempos?




R – Isso não é uma possibilidade, esta é uma afirmação unânime e mundial. Glauber é um dos cineastas mais importantes do planeta!



5) - para você, o que foi o Cinema Novo?

R – O Cinema Novo foi uma tentativa de se discutir o Brasil a partir do filmes, do ponto de vista dos morros, das favelas, do sertão. Foi um cinema de ideias. Foi um cinema feito por jovens, abordando temáticas jovens para o nosso cinema, de maneira nova de ver o homem brasileiro na sua essência e não a partir do olhar do outro – por isso que ele é novo! Porque foi um cinema feito por jovens, pela juventude que vivia num país em transformação. Saindo da uma sociedade agrícola para a uma urbana e industrial. Daí a ideia de cinema de autor sai bastante reforçada. Os cineastas faziam os filmes de acordo com suas concepções de mundo e não de acordo com o gosto do público ou do mercado, como se diz.


6) - Durante a década de 60 vimos surgir a organização do cinema, com mais leis e federações, inclusive com o surgimento de muitos cineclubes. Quais são as características dos cineclubes atuais, e das décadas passadas.  




R – Atualmente os cineclubes se destacam mais pela possibilidade deles mesmos produzirem os seus próprios filmes. Antes não, antes o cineclube era a melhor escola para se aprender e fazer cinema. Os cineclubes era difusores, formam o público para melhor identificar os códigos dos filmes, para melhor entende-los. Antes os cineclubes eram as ONGs de hoje. Hoje os cineclubes começam a ter uma característica empreendedora. Inclusive como possibilidade profissional.


7) - Quais são os projetos que o cineclube no qual você preside realizam?




R - O Centro Cineclubista é uma espécie de incubadora de cineclubes, é constituído de múltiplas experiências, mitos cineclubes desenvolve trabalhos focados em temáticas específicas, como a questão de da mulher, de gênero, da produção independente, de temáticas variadas, do cinema Africano, da relação cinema com a literatura, do cinema latinoamericano, das escolas de cinema mundial, do cinema indiano e por aí vai.


Além disso ele ainda procura manter uma Revista a CINECLUBEBRASIL, tem uma sala de Cinema chamada “Cineclube Grajaú”, uma vitrine de um projeto mais ambicioso chamado de Circuito Popular de Cinema, realiza, Fóruns, Seminários, Palestras, Workshops, Oficinas, Mostras. Etc.
De maneira geral, procura discutir as políticas públicas de cultura e mais especificamente, aquelas ligadas ao cultura Cinematográfica e do Audiovisual.













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