Não é novidade, mas esta última sessão, anunciada do Espaço Itaú de Cinema,
localizada na Rua Augusta, nº 1.475, em São Paulo, infelizmente e mais uma vez,
não será de fato a última, em se tratando de salas de cinema, localizadas nas
ruas das cidades brasileiras. Outras virão e esta peleja não tem fim!
Funcionando desde 1995, quando foi inaugurada, as duas salas do anexo da Rua
Augusta, conquistou seu lugar de destaque entre as salas mais tradicionais de
São Paulo. O Espaço Itaú de Cinema, não é tão somente uma simples “sala de
cinema”, ela agrega valores simbólicos de toda uma ambientação, que caracteriza
uma boa sala de cinema, com atrativos que possibilitam aos seus frequentadores
cultivarem aquele lugar de sentimentos de pertencimento. Aquele espaço de alguma
forma proporcionou aos seus usuários, criar histórias que de alguma forma fazem
parte de sua memória.
Em outubro de 2022, os responsáveis pelas salas de cinema, solicitaram ao
Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (CONPRESP), o tombamento
do local como patrimônio histórico e cultural da cidade. O silêncio por parte
do órgão público, não significa “consente”, pelo contrário, pode significar
negligência, descanso. Talvez por isso o Ministério Público do Estado
determinou abertura de inquérito civil, ação que pode impedir, pelo menos
temporariamente a demolição, não só do imóvel que abriga as salas de cinema e o
Café Fellini, mas todos os imóveis que se estendem até a rua Antônio Carlos,
para dar lugar a um empreendimento imobiliário, num logradouro já saturado de
espigões cinzentos.
O crescimento de uma cidade não se faz somente pela sua extensão
territorial, seja ela vertical ou horizontal, mas principalmente pela forma
como ela proporciona aos seus moradores, um modo de vida com qualidade. Outras
formas de crescimento, com mais harmonia é possível, evitando o que o filósofo Eduardo
Subirats chama de “o império da feiura”. Flanar pela cidade possibilita ao
transeunte, dar de cara com obras de arte e não só prédios. Barulho,
velocidade, carros, mas também com uma pintura, um painel, intervenções
artísticas que humanizam o tenso tecido social da urbe, já bastante desgastada.
Diversas ações foram tomadas, o abaixo assinado contra a demolição do cinema chegou a reunir algo em torno de 50 mil assinaturas. Timidamente a mídia deu o ar da graça, em apoio a permanência do espaço. Anteriormente no local funcionou o Cine Majestic, desde a abertura do Espaço Unibanco, hoje Itaú de Cinema, aquele trecho da Rua Augusta, revitalizou o empreendimento com viés de responsabilidade social. Mesmo assim a data final está decretada, para o dia 28 de fevereiro, que antecede o carnaval do ano em curso, prazo para a realização da “penúltima sessão de cinema”, como sentencia Adhemar Oliveira, proprietário do Espaço Itaú de Cinema, com a exibição do filme de Luiz Bolognesi, “A última floresta" (2021), retratando a tragédia humanitária dos Yanomamis, às 20h.
Enquanto barbáries culturais como esta. acontecerem em nossas cidades, distante continuaremos da civilização!
· * Fotos
de divulgação do espaço Itaú de Cinema
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