segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011


Geraldo Vandré, no Cineclube

Isso foi por volta de 1978 a 1980, quando praticava capoeira e lá fundamos o cineclube “Capitães D’Areia”. Á academia tinha o mesmo nome, uma homenagem a obra e seu autor, Jorge Amado. Aos sábados, ela se transformava num verdadeiro Centro de Cultura popular, e a primeira atividade era a “Roda”, onde geralmente recebíamos outros capoeiristas pra “vadiar” na dança, no jogo da capoeira.


Invariavelmente, quando a roda ia começar, um cidadão sentava no círculo, junto com os capoeiristas, fecha os olhos e ali, impávido, permanecia até o final. De início, sem saber de quem se tratava, chegamos a reclamar com o mestre para tirá-lo dali. Deixe ele, disse o mestre, ele sabe o que faz. Este ritual lhe faz bem, continuou o mestre, isso lhe faz bem, é inspirador.


Pelo sim ou pelo não, lá ele ficava. Com a turma da capoeira, sai, algumas vezes, ora para conversar, papos de “buteco”, ora  para jantar... certa vez, contou pra gente, uns poemas do Pablo Neruda, que estava musicando. Cantava suas musicas, mas quando se tratava de “Caminhando”, para quem ainda não sabia quem era aquela figura, esta música era assim uma espécie de código decifrado: surpresa, alegria... Parece que algo baixava no ambiente, era mágico. Ele estava ali, de carne e osso, generoso, cantando pra gente. Sentia que cantava pelo prazer de cantar. E nós, ali, diante do mito!

Certa vez programamos o filme “A Noite do Espantalho”, de Sérgio Ricardo e junto colocamos o curta: “Ismael Silva”, que agora não lembro o nome do diretor. Vandré viu a sessão e me lembro dele ter comentado que gostou da sequência em que o “Geraldinho Azevedo” aparece montado em um jumento. Não me recordo direito se ele havia gostado do filme ou da participação de seu parceiro. Do curta lembro dele ter gostado.

Desse tempo guardo na lembrança, um Vandré lúcido, discreto, reservado, tranqüilo, mas acima de tudo generoso, fraterno, solidário.

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