domingo, 1 de maio de 2011


Cravinote¹

Firoca que era tão moço, não devia ter aceito aquele serviço. Onde já se viu, ficar lá de espera. Não é certo padecer e o corpo não ser velado. Agora temos que ir lá e retirar o que sobrou do falecido, antes que o Disgranhento leve sua alma.

Sizé foi procurado para explicar a benzeção protetora de corpo fechado, que não fechou.

Antes do fato acontecido, Firoca com uns galhos de “Unha de Gato” que já estavam lá, cortados, enfiou um por um entre um pau e outro da porteira, de modo que a passagem ficasse interrompida.

Os miolos da cabeça começaram a ficar quentes, bem antes mesmo do sol se pôr a pino. Sol a pino é funil de vento. Terra seca é sol a pino, é redemoinho. Bem que a Acauã já tinha cantado e Firoca não deu ouvido.

Não era justo impedir as pessoas de pegarem água no tanque. A água já estava podre, só servia mesmo para os porcos lamearem. Beber, nem o gado bebia. Os porcos se lambuzavam nela. Então porque fazer aquilo?

As vistas já estavam piscando, quando um barulho de alpercatas chamou sua atenção. Tomou sentido e viu o som delas vir vindo, aumentando, aumentando, vindo, vinha, aumentando até que aos poucos, sumiram. Mal Firoca de soslaio olhou na direção que vinha o barulho do tiro da cravinote que longe,ecoou. Não viu e nem ouviu mais nada, não doeu.

O Cravinote de Líbano sumiu e todo mundo sabe que Gileno é coisa ruim. Dizem que de noite ele apareceu na casa de Zuza. Gileno e Zuza juntos, coisa boa daí num sai.

Firoca, antes de ouvir o barulho da Cravinote, só conseguiu ver o som das alpercatas que protegia os pés de Rosinha do areão quente. Por amor imaginado, Rosinha de Dila virou, como os outros, aves de arribação. Pra onde foi, não se sabe .

De onde vejo nada consigo fazer. Os que vêm vindo encontrarão o corpo sem um olho, sem saber que gavião comeu antes que urubu... A vingação então não se fez!

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¹- Clavinote, arma de fogo de cano mais curto que o de uma espingarda e de tiro forte.

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