De: Silvio Tendler, Para Diogo: Peguei a matéria que vcs fizeram e coloquei a boca no trombone. Um deputado pediu explicações ao MinC e o Roberto Farias além de diversos cineastas responderam. Segue abaixo troca de emails. Abraços Silvio ---------- Mensagem encaminhada ---------- De: Roberto Farias <rf.farias@uol.com.br> Data: 13 de agosto de 2011 17:48 Assunto: RES: Entrevista à Revista Cineclube Brasil e FSA. Para: abraci-rj@googlegroups.com Caros Dodo e Silvio. Silvio não está sozinho. Dei entrada em dois projetos. Um foi selecionado para “pitching”, O outro levou bomba de um desconhecido. Nesta altura da minha vida, terei de respirar fundo e representar um número para a comissão que irá me julgar. Minha história no cinema é pública. A do senhor que detonou exatamente o roteiro cuja produção estava mais adiantada, não conheço, não sei quem é. Gostaria de saber o que lhe dá autoridade para dizer o que disse do roteiro e de mim. Ele põe em dúvida minha capacidade profissional, porque estou há quase 30 anos sem filmar, esquecendo que sempre fiz filmes com recursos privados e parei porque o mercado se transformou em terra arrasada. Fui para a TV, onde procurei fazer o mais próximo do cinema que pude, em minisséries como “A Máfia no Brasil”, “Noivas de Copacabana” “Maria Moura” e “Decadência” e onde sou responsável por várias quebras de recordes de audiência. O que para ele não conta, porque o filme “corre o perigo de uma linguagem de televisão” Abaixo, reproduzo algumas de suas observações, só para ilustrar.
Observem que o parecerista que gosta do projeto não é o que dá a nota.
De: abraci-rj@googlegroups.com [mailto:abraci-rj@googlegroups.com] Em nome de dodo Enviada em: sábado, 13 de agosto de 2011 11:20 Assunto: Re: Entrevista à Revista Cineclube Brasil e FSA. Silvio, sua história é igual a de tantos outros cineastas que ouvimos diariamente. E digo de cineastas com envergadura, experiência, estrada como você. Isso é um absurdo! E serve para nossa reunião (Abraci) com a Vera Zaverusca. Queremos levar "cases" como o seu para ela ver o que se passa lá dentro. E ela quer que nós levemos. Ou seja: começou a ter gente de cinema lá na agência. Gente que gosta do CB e respeita os cineastas (principalmente os veteranos como você). Se nossa ministra tiver esse olhar (e acredito que tenha), teremos em breve mais gente de cinema ocupando mais uma diretoria da agência.Mas de qualquer forma, Silvio, o Tendler, continue respondendo a tudo e a todos com seus filmes. Saudações, Dodô PS: como a Rose já relatou na nossa lista, estamos agendando uma reunião com a Vera Zaverusca que, como deve ser feito, nos procurou para ouvir nossas demandas e de outras associações (coisa de quem entende do assunto) e para levarmos casos como o do Silvio, o Tendler para que possa tomar pé do que acontece na agência e nos auxiliar que é para o que serve a mesma . Encaminhem, pois, seus percalços para darmos subsídios a nossa nova diretora. Obrigado, Dodô. ----- Original Message ----- From: Silvio Tendler Cc: caliban Sent: Saturday, August 13, 2011 10:51 AM Subject: Entrevista à Revista Cineclube Brasil e FSA. Prezados, Reproduzo minha entrevista publicada na Revista CineclubeBrasil feita no Cineclube Fusão com a presença das companheiras do Cineclube Mulher e diversos outros militantes do movimento cineclubista, gente que gosta e entende de vida e de cinema. Conduzida e editada pelo jornalista e escritor Oswaldo Faustino, A entrevista é um pouco antiga porque foi concedida há alguns meses mas poderia ter sido feita ontem, mudando o nome dos filmes, trocando o "Poema Sujo" por "Alma Imoral". o preconceito é o mesmo: Voltei a tomar pau no concurso do Fundo Setorial, FSA, desta vez com a proposta de adaptar o livro "Alma Imoral" do Rabino Nilton Bonder para o cinema. Esclareço que tenho plena consciência de, quando entramos num concurso, é para vencer ou perder. Perder durante a partida é honroso, no "tapetão" é abjeto, nojento. A acusação é a mesma ladainha de sempre: não sabe fazer roteiro, bilheterias pífias. Agora foram um pouco mais longe e questionaram minha capacidade de azer orçamento. Os caras questionam, por exemplo que disse que filmar em Dubai é mais barato que filmar em Caracas. Não tiveram sequer o cuidado de consultar um site de viagens quando veriam que as diárias de hotel em Dubai estão cotadas em R$70,00, enquanto em Caracas estão na faixa dos R$300,00. Me acusam de pretender filmar em oito cidades em sete dias!!! de onde tiraram isso, não sei, do projeto que apresentei não foi. Itens como esse me tiraram preciosos pontos que derrubaram meu filme do concurso. O analista da Ancine esqueceu que o projeto foi apresentado e aprovado na própria Ancine onde foi examinado com lupa em seus mínimos detalhes. Para me excluir do FSA Inventou, no quesito análise de riscos de investimento uma "regra" que me roubou preciosos pontos definindo como risco o fato de ainda não ter captado menos da metade do orçamento do filme. O analista deveria saber que existe dentro das normas do FSA um mecanismo que só libera os recursos alocados quando o projeto já captou 80%o do valor do filme. Ora, o que garante ao analista da Ancine a certeza de quais filmes aprovados efetivamente conseguirão integralizar os recursos? O analista apresenta uma "regra" e uma aritmética por ele inventada que não faz parte de nenhum regulamento. Os pareceristas externos da Ancine que conhecem perfeitamente cinema atestam minha capacidade de realizar o filme, da minha produtora, produzir e da adaptação do livro poder resultar num bom filme. Aliás, quem são esses analistas, tem nome e sobrenome, tem que apresentar currículo comprovando pleno conhecimento da matéria como nós somos obrigados a fazer ou são profissionais de concurso para quem tanto faz trabalhar na Ancine, Petrobras ou banco central desde que garanta um emprego estável e um bom salário? Quem toma a decisão final, o analista sòzinho, a diretoria do FSA? Quero saber tintim por tintim. Se, por um lado, a iniciativa de publicar os pareceres é transparente e extremamente louvável, a decisão final que determina a seleção ainda é bastante turva, nebulosa. Quero saber o nome dos analistas e gestores que participaram da exclusão do meu filme? Fazem publicamente, de cabeça erguida ou envergonhados, protegidos pelo anonimato? Como cidadão, tenho esse direito. Enquanto vão tentando me impedir de filmar, numa estratégia assassina que tenta matar o artista, terminei o longa "Tancredo, A Travessia", o média "Veneno Está Na Mesa", que está bombando na internet, (está no you tube onde em menos de duas semanas já teve mais de 30,000, trinta mil acessos, isso mesmo!!!), também fiz por minha conta e risco o curta "Matzeiva Julianoo Mer-Khamis" (também no you tube), e agora, contratado pelo movimento popular, estou filmando "A Marcha das M argaridas"sobre mulheres da terra e farei um outro sobre agroecologia. Todos realizados sem recursos incentivados. Por minha conta preparo uma homenagem ao centenário General Giap que completa um século dia 25 de agosto e entrevistei em 2003 com 94 anos. Ou seja, não adiante tentarem me impedir de filmar, porque responderei com filmes. Abraços Silvio Esta entrevista publicada originalmente na revista Cineclube Brasil, nº 4, 2011. http://www.cineclubebrasil.com.br. 12 de Agosto de 2011 - 22h00 Silvio Tendler, um cineasta contra a maré Por Oswaldo Faustino* reprodução Sílvio Tendler. Ao fundo, grafite da vídeo instalação do Poema Sujo no Espaço Oi, Rio de Janeiro. Acusado por analistas do Fundo Setorial Audiovisual, do Ministério da Cultura (MinC), de não saber fazer roteiro e de que seus filmes têm bilheterias pífias, o cineasta chuta o balde e mostra que, além de conquistar as maiores plateias do mercado brasileiro de documentários – O mundo Mágico dos Trapalhões (1 milhão e 800 mil espectadores), Jango (1 milhão) e Anos JK (800 mil) –, seu Utopia e Barbárie é um dos filmes mais vistos em exibições alternativas. Aos 60 anos, o cineasta Sílvio Tendler se revela ainda apaixonado por cinema e literatura e está muito distante da descrença e do tédio de um grande número de jovens esquerdistas de sua geração. Alerta-nos quanto à efemeridade de alguns atos e palavras de pessoas que merecem admiração e sugere que direcionemos nosso olhar para as grandes realizações artístico-culturais de alguns personagens, cujo posicionamento político possa nos desagradar. Conta -nos a história de sua vida de documentarista, destaca também a importância do cineclubismo em sua formação profissional e aponta as utopias e a barbáries no mundo do cinema, em nosso país. Entre curtas, médias e longas-metragens, já dirigiu cerca de 40 filmes, sempre com uma visão humanista e reflexiva. Fundou, em 1981, a Caliban Produções Cinematograficas, que produz biografias históricas de cunho social. Os rumos do Brasil, da América Latina e do mundo em desenvolvimento são sua principal preocupação. Tendler foi presidente da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Cineastas. É um dos criadores da Fundação Novo Cinema Latino-Americano e do Comitê de Cineastas da América Latina. Dirigiu a Fundação Rio Arte e o Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho. Foi diretor da TV Brasília e secretário de Cultura e Esporte, no governo Cristóvão Buarque, no Distrito Federal. Atuou na Unesco, na Coordenação de Audiovisual para o Brasil e o Mercosul, da qual atualmente é consultor. Leciona no Departameto de Comunicação Social da PUC-RJ. “O Sr. Documentário”, como o chamou um crítico de um grande jornal, anda às voltas com seu principal projeto atual: produzir um filme documentário sobre o Poema Sujo, de Ferreira Gullar. Enquanto não vence os incontáveis obstáculos para realizá-lo, montou uma videoinstalação, no Rio de Janeiro, com artistas renomados lendo os versos do poeta, que, um dia, declarou: “Como a vida é inventada, eu inventei o meu nome”. Com a palavra, Sílvio Tendler. Cineclube Brasil: Há quem diga que você é um cineasta que passou a vida inteira fazendo um filme só. É verdade? Silvio Tendler: Não sei se pode-se dizer: “de um filme só”... mas acredito que todos os meus filmes dialogam entre si. Tenho muito essa preocupação de imprimir Brasil nas telas. Discutir Brasil. Modestamente, eu acho que hoje tenho uma das melhores “brasilianas”. Cineclube Brasil: Como surgiu o título “Cineasta dos sonhos interrompidos”? Sílvio Tender: O Arnaldo Carrilho, que hoje é embaixador do Brasil na Coreia do Norte, velho cinéfilo e nosso amigo, quando eu lan cei Glauber e depois Milton Santos, me definiu como o “Cineasta dos sonhos interrompidos”. Ele demonstrou que todos os meus personagens, de uma maneira ou outra, por alguma razão, interromperam a obra que estavam fazendo. Cineclube Brasil: Quais são suas grandes paixões e influências no cinema? Sílvio Tender: Minhas grandes paixões começam na ficção, com Godard. Na verdade, pela grande tríade revolucionária do cinema, nos anos 60 e início dos 70: Godard, Pasolini e Glauber. São os três caras que sacolejam o cinema, em termos de linguagem, de temática, de propor ousadias. Depois, aqui no cinema brasileiro, é muito Joaquim Pedro de Andrade. Ele tem uns filmes, na minha cabeça, os mais seminais do cinema brasileiro. Vou de cara em Os Inconfidentes, em que ele conta a história da Inconfidência Mineira, em pleno governo Médici. Fala de Tiradentes, mas também es tá falando daqueles anos 70, com a barbárie do governo Médici, mostrando que o “porra louca” de hoje é o herói de amanhã. Cineclube Brasil: E, como documentarista, quais são as suas influências?
Sílvio Tender: Eu começo, no Brasil, com Vladimir Carvalho, o primeiro cara do cinema documentário com que tive contato direto, em 1969, quando ele estava fazendo O País de São Saruê. Depois o Geraldo Sarno, de quem até tenho uma história engraçada. Naquela época, eu era presidente da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro. Geraldo me entregou uma cópia “zerinho” de Viramundo, pra gente distribuir o filme. Assim faria finanças pra ele e renda pra nós. Seis meses depois entregamos a ele a cópia em frangalhos, sem devolver um tostão. Depois veio o Sérgio Muniz. Aí eu vou para os internacionais. Saí do Brasil, Joris Yves foi o primeiro cara que me acolheu. Depois conheço Santiago Alvarez, que me trata com muito carinho, e Patrício Guzmán. E Jean Rouch me deu a documentação de que eu precisava para tirar meu certificado de residência na França. Um pouco mais tarde, o Richard Leacock, que também é um papa do cinema verdade americano, o cinema direto, que foi da equipe do Robert Drew. |
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
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