sábado, 4 de fevereiro de 2012

TORY & KANOL


          

Nos idos anos de 1984, já em plena Anistia e as vésperas das eleições para governadores, os cineclubes ainda se movimentavam. O vídeo cassete já se fazia presente nas casas de famílias economicamente abastadas e os cinemas exibiam todos os filmes, que até então, era privilegio dos cineclubes, cinematecas e salas especiais exibir, a contra gosto da censura. Aos poucos, lenta e gradual a distensão, passagem segura do regime militar para o civil, aproximava.

Entre os cineclubes, na vila Madalena, por absoluta falta de grana, dois cineclubistas, oriundos do movimento estudantil secundarista, Tory & Kanol, criaram naquela boêmia vila, um cineclube que exibia filme em VHS, tendo como tela, um aparelho de televisão de 20” (polegadas).

A notícia da atividade dos adolescentes chegou à sede da Federação Paulista de Cineclubes, que abrigava também, a sede nacional da Distribuidora de filmes em 16 mm para Cineclubes – Dinafilmes – e do Conselho Nacional. Os hereges eram vistos com certa desconfiança, tinha umas ideias, para nós, muito “secundaristas”.

O ainda, grão mestre dos cineclubes, Filinto Maiscedo, logo se encarregou, por meio de um artigo para o Boletim Informativo da entidade Federação Paulista de Cineclubes, execra aquela atividade: Onde já se viu, dizia ele, aquela nunca poderia ser admitida como uma atividade cineclubista!!!... E todos seguiram o mestre... Mas para ajudar os garotos, a Federação se propôs a alugar, a preço módico, um projeto IEC, modelo T-25 de 16 mm ao cineclube.

No mês de agosto, conhecido como sendo o do cachorro louco, realizou-se a Assembléia de eleição da Federação Paulista de Cineclubes. A corrente dos “Feios, Sujos e Malvados”, que estavam na direção do movimento paulista, pleiteavam mais uma administração. A “Avançar” – avança é um termo atribuído a Joseph Stalin, quando este ordena a ofensiva do Exercito Vermelho, sobre o Exercito da SS do partido Nazista alemão, que ocupara a outrora San Petersburgo, depois Leningrado e neste fato, Stalingrado, hoje San Petersburgo -, os representantes da chapa de oposição, perdera em julho último, a direção nacional do movimento cineclubista, justamente para os “Feios, Sujos e Malvados”, pela diferença mínima. Agora as mesmas forças se enfrentariam.

No mapeamento dos votos presentes, os “Feios”, novamente tem a seu favor, a diferença mínima. Mas, eis que, os dois representantes do Cineclube da Vila Madalena, Tory & Kanol, que haviam se comprometidos a votar com os feios, os procuram e anunciam que votarão com a turma da Avançar.

A mudança ocorrera porque os secundaristas foram procurados por uma representante daquele grupo, que lhes ofereceram em troca do seu voto, um projetor 16 mm. Além de Feios, Sujos e Malvados, éramos também, da periferia, pretos e pobres, mas tínhamos princípios e não cobrimos a oferta.

A turma da Avançar ganhou as eleições da Federação Paulista de Cineclubes, pela vantagem da diferença mínima. O cineclube da Vila Madalena, nunca viu a cor do projeto prometido e os “estrategistas” da Avançar, apagaram as luzes do movimento cineclubista Brasileiro no final dos anos de 1989. Eles continuam, ainda hoje, se apresentando como os paladinos do cineclubismo, numa vertente que poderíamos chamar de “opereta bufa”.

Para os irmãos Tory & Kanol, o cineclubismo foi uma experiência enriquecedora, mas que passou. Eles continuam vivendo em regime matrimonial, sem filhos, engrandecendo o designer gráfico e o Web designer, mas não conseguem viver fora do meio artístico.

Um comentário:

Sandino disse...

... mecdo do futoro , medo do incontrolável ...