É difícil conceber a existência do
cineclubismo como atividade civilizatória, desassociada da cultura cinematográfica e do audiovisual, da militância política e cultural, sem o
filme como ferramenta do fazer cineclube. Urge perguntar: Os cineclubes ainda
são organizações coletivas?
Cineclubistas deveriam saber, que o
desenvolvimento da narrativa fílmica, é impulsionada pela ação do antagonista. Portador
de significados, o protagonista conduz a resolução do conflito - gerado pela
ação do antagonista -, e no final, o protagonista salva a mocinha e eles...
Como atividade difusora da cultura
cinematográfica, um dos objetivos dos cineclubes, era participar diretamente do
processo de criação e produção do cinema, já que no final, pela natureza da sua
atividade, lá estariam, como princípio e fim desse metamorfósico e ideológico
cineclubar, utópico, que os mantém ativos.
A atividade cineclubista permanece viva
na memória do Cinema Brasileiro, com substantivos, adjetivos e verbos que os
qualifica e legítima sua contribuição no desenvolvimento do cinema nacional.
Recorremos aos nossos antepassados para
realçar que os festivais, as cinematecas, as entidades de representação da
classe cinematográfica, os primeiros passos para o reconhecimento das imagens
em movimento, como expressão da “beleza cinematográfica”, elevada à condição de
arte, em muito se deveu a atitude cineclubista. Desconhecido o passado,
inapropriado o futuro.
A impressão genérica é que hoje, os cineclubes renunciam o filme como objeto preferencial do seu trabalho e tão pouco lhe confere legitimidade como meio de expressão, tanto do ponto de vista da informação, da comunicação, da educação, como da diversão. Papo reto: Hoje, os cineclubes se sentem representados nos filmes brasileiros?
O mercado de cinema no Brasil e no
mundo (ressalvo para as exceções), continuam “ocupados” pelo produto estrangeiro,
principalmente aquele de consumo ligeiro, notadamente norte-americano, tornando
na prática, o filme nacional, exilado em seu próprio território. Continuamos
vendo um ou outro filme de nossos vizinhos latino-americanos, pela via do
invasor. É assim que “Nós somos o
público”?
Somos mais de 207 milhões de habitantes, talvez, 10% da população tem
acesso as salas de cinema, ao filme brasileiro (nos referimos ao público,
ingresso vendido é outro departamento). Permanece o índice de 95% dos nossos
municípios sem sala de cinema. Isso nos
diz respeito? E o outros 90% da população, que lugar ocupa nos objetivos dos
cineclubes?
Vivemos tempos difíceis, mas poucas
vezes o terreno foi tão propício como agora, para os cineclubes proliferarem país
afora. O debate é condição sine-qua-non na essência do cineclubismo. Nunca se produziu tanto cinema como
atualmente e nunca o acesso ao filme foi tão favorável como agora. Um pendrew, uma difusora no bolso.
Por imposição do fato, estarmos vivendo
num Estado de EXCEÇÃO. Declinamos o silêncio, as armas cineclubistas, aguçai a
vossa militância cidadã, e como diz o também cineclubista Vinícius de Morais: E
no entanto, é preciso cantar! Paulo (personagem do filme Terra em Transe, 1967, Glauber Rocha): Eu preciso cantar! Cineclubistas:
Precisamos cantar!
Desde a
última jornada, pipocam esforços pela nossa imensidão territorial, iniciativas
para recolocar o cineclubismo na cena cultural do país, no que pese a
existência de teoria vaticinando o fim dos cineclubes!
Destravemos o diálogo, ocupemos as
ferramentas digitais com o altivo som e movimento da língua portuguesa,
projetemo-nos nas telas e juntos com o público, vamos conversar com o filme.
Parece evidente, que precisamos com
muita urgência, estabelecer um processo de escuta para ouvir o outro, o
diferente, o divergente e até mesmo o correligionário. É na lista “cncdialogo”, que este processo de
escuta cineclubista, deve ser fomentado e conduzido pelo bom senso, em torno de
uma pauta mínima, visando a realização da próxima jornada e de uma possível “Consolidação
do Espaço Cineclubista[3]”
(Slogan
da gestão 1984-86), e recolocar
o Movimento Cineclubista no olho do furacão da luta geral da sociedade
brasileira, por sua plena normalidade constitucional.
Os cineclubes estão na base piramidal
da sociedade brasileira, conversam direto com o público, como indica a “Carta
de Tabor” e por isso, nossa aversão quanto a interpretação de que “Nós somos o
público”.
Na
plenária da última Jornada foi formada uma Comissão para elaborar propostas
para mudar os estatutos. As propostas foram compiladas, estão à disposição.
Mas, como discutir mudança de estatutos, quando está em cheque a natureza do
objeto que ele deverá regular? A compreensão do que é um cineclube, é
consensual?
Convenhamos! A autocrítica é fator
essencial no exercício da democracia. Será ser difícil outra Assembleia do Conselho Nacional de Cineclubes
Brasileiros – CNCB -, sem Jornada, sem Pré-Jornada, sem discussão do processo
eleitoral, laureada de incertezas, imersos no nada, como já aconteceu antes. É urgente fazermos uma avaliação crítica da
Rearticulação de 2003.
Partirmos de corações e mentes abertas,
sabendo que a princípio estamos todos do mesmo lado, alguns nas mesmas e outros
em barricadas diferentes, mas do mesmo lado, dispostos a saber quem somos e
quem é o outro que está do meu lado?
O que estamos propondo é que
conversamos, de maneira franca, radicalmente indignada, fervorosa, democrática, na defesa de nossas
ideias e convicções. Sabendo que poderemos defender pontos de vistas
diferentes, antagônicos, mas sinceros. É desse diálogo que pretendemos manter
viva, mais do que nunca, a atitude cineclubista!
Uma vez cineclubista, sempre
cineclubista!
O convite está lançado!
Diogo
Gomes dos Santos
Cineclubista
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