domingo, 17 de setembro de 2017

CINECLUBISTA BRASILEIROS, ESCUTAI-VOS!


Cineclubista Brasileiros, Escutai-vos! [1]



“Um espectro ronda[2]” o Movimento Cineclubista Brasileiro, o espectro da identidade, perdida?

É difícil conceber a existência do cineclubismo como atividade civilizatória, desassociada da cultura cinematográfica e do audiovisual, da militância política e cultural, sem o filme como ferramenta do fazer cineclube. Urge perguntar: Os cineclubes ainda são organizações coletivas?

Cineclubistas deveriam saber, que o desenvolvimento da narrativa fílmica, é impulsionada pela ação do antagonista. Portador de significados, o protagonista conduz a resolução do conflito - gerado pela ação do antagonista -, e no final, o protagonista salva a mocinha e eles...


Como atividade difusora da cultura cinematográfica, um dos objetivos dos cineclubes, era participar diretamente do processo de criação e produção do cinema, já que no final, pela natureza da sua atividade, lá estariam, como princípio e fim desse metamorfósico e ideológico cineclubar, utópico, que os mantém ativos.

A atividade cineclubista permanece viva na memória do Cinema Brasileiro, com substantivos, adjetivos e verbos que os qualifica e legítima sua contribuição no desenvolvimento do cinema nacional.

Recorremos aos nossos antepassados para realçar que os festivais, as cinematecas, as entidades de representação da classe cinematográfica, os primeiros passos para o reconhecimento das imagens em movimento, como expressão da “beleza cinematográfica”, elevada à condição de arte, em muito se deveu a atitude cineclubista. Desconhecido o passado, inapropriado o futuro.



A impressão genérica é que hoje, os cineclubes renunciam o filme como objeto preferencial do seu trabalho e tão pouco lhe confere legitimidade como meio de expressão, tanto do ponto de vista da informação, da comunicação, da educação, como da diversão. Papo reto: Hoje, os cineclubes se sentem representados nos filmes brasileiros?

O mercado de cinema no Brasil e no mundo (ressalvo para as exceções), continuam “ocupados” pelo produto estrangeiro, principalmente aquele de consumo ligeiro, notadamente norte-americano, tornando na prática, o filme nacional, exilado em seu próprio território. Continuamos vendo um ou outro filme de nossos vizinhos latino-americanos, pela via do invasor. É assim que “Nós somos o público”?

Somos mais de 207 milhões de habitantes, talvez, 10% da população tem acesso as salas de cinema, ao filme brasileiro (nos referimos ao público, ingresso vendido é outro departamento). Permanece o índice de 95% dos nossos municípios sem sala de cinema.  Isso nos diz respeito? E o outros 90% da população, que lugar ocupa nos objetivos dos cineclubes?


Vivemos tempos difíceis, mas poucas vezes o terreno foi tão propício como agora, para os cineclubes proliferarem país afora. O debate é condição sine-qua-non na essência do cineclubismo. Nunca se produziu tanto cinema como atualmente e nunca o acesso ao filme foi tão favorável como agora. Um pendrew, uma difusora no bolso.

Por imposição do fato, estarmos vivendo num Estado de EXCEÇÃO. Declinamos o silêncio, as armas cineclubistas, aguçai a vossa militância cidadã, e como diz o também cineclubista Vinícius de Morais: E no entanto, é preciso cantar! Paulo (personagem do filme Terra em Transe, 1967, Glauber Rocha): Eu preciso cantar! Cineclubistas: Precisamos cantar!

Desde a última jornada, pipocam esforços pela nossa imensidão territorial, iniciativas para recolocar o cineclubismo na cena cultural do país, no que pese a existência de teoria vaticinando o fim dos cineclubes!



Destravemos o diálogo, ocupemos as ferramentas digitais com o altivo som e movimento da língua portuguesa, projetemo-nos nas telas e juntos com o público, vamos conversar com o filme.

Parece evidente, que precisamos com muita urgência, estabelecer um processo de escuta para ouvir o outro, o diferente, o divergente e até mesmo o correligionário. É na lista “cncdialogo”, que este processo de escuta cineclubista, deve ser fomentado e conduzido pelo bom senso, em torno de uma pauta mínima, visando a realização da próxima jornada e de uma possível “Consolidação do Espaço Cineclubista[3](Slogan da gestão 1984-86), e recolocar o Movimento Cineclubista no olho do furacão da luta geral da sociedade brasileira, por sua plena normalidade constitucional.

Os cineclubes estão na base piramidal da sociedade brasileira, conversam direto com o público, como indica a “Carta de Tabor” e por isso, nossa aversão quanto a interpretação de que “Nós somos o público”.


Na plenária da última Jornada foi formada uma Comissão para elaborar propostas para mudar os estatutos. As propostas foram compiladas, estão à disposição. Mas, como discutir mudança de estatutos, quando está em cheque a natureza do objeto que ele deverá regular? A compreensão do que é um cineclube, é consensual?

Convenhamos! A autocrítica é fator essencial no exercício da democracia. Será ser difícil outra Assembleia do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros – CNCB -, sem Jornada, sem Pré-Jornada, sem discussão do processo eleitoral, laureada de incertezas, imersos no nada, como já aconteceu antes. É urgente fazermos uma avaliação crítica da Rearticulação de 2003.



Partirmos de corações e mentes abertas, sabendo que a princípio estamos todos do mesmo lado, alguns nas mesmas e outros em barricadas diferentes, mas do mesmo lado, dispostos a saber quem somos e quem é o outro que está do meu lado?

O que estamos propondo é que conversamos, de maneira franca, radicalmente indignada, fervorosa, democrática, na defesa de nossas ideias e convicções. Sabendo que poderemos defender pontos de vistas diferentes, antagônicos, mas sinceros. É desse diálogo que pretendemos manter viva, mais do que nunca, a atitude cineclubista!

Uma vez cineclubista, sempre cineclubista!

O convite está lançado!


Diogo Gomes dos Santos
Cineclubista




[1] - Colocamo-nos ao lado dos “torcedores” do que DOS teóricos do marxismo, o Uni-vos, fica explicito. Optamos pelo “Escutai-vos”, na perspectiva do coletivo. Nota do Autor.
[3] -, Boletim Telão nº 1, publicação do então CNC.

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