quinta-feira, 9 de maio de 2013


100 de Movimento cineclubista mundial 
10 da 2ª Rearticulação Brasileira


                                                  Este texto tem a preocupação de marca, registrar e celebrar a
                                                  passagem da data comemorativa durante o ano e divulgá-lo a um
                                                  público leigo, via jornais de bairros e redes sociais da internet.                                                
                                                  Sua publicação teve início com o Jornal "Madalena", que atinge
                           nove bairros da capital paulista; jornal "Bom Dia" de Sorocaba 
                          e filiais e segue sendo publicando em outros meios e jornais. 


Passeata em Ouro Preto, 19º Jornada Nacional de Cineclubes, 1985

Este ano de 2013 o cineclubismo comemora o seu primeiro centenário. Os cineclubes surgiram na França, seus criadores mais conhecidos são o francês Louis Delluc e o italiano radicado na França, Ricciotto Canuto. A data de 2013 foi escolhida, por considerar a atividade “Cinema do Povo”, como um marco desta atividade.

Seguindo o modelo francês, os cineclubes chegaram ao Brasil em 1917, no Rio de Janeiro, através da ação de um grupo de jovens interessados em fazer e discutir cinema. Eles assistiam aos filmes nos Cinemas e depois ia discuti-los num lugar chamado “Paredão”, daí o nome “Cineclube Paredão”. O grupo encabeçado por Adhemar Gonzaga, Pedro Lima, Álvaro Rocha Paulo Vanderley, Luis Aranha, Hercolino Cascardo. Gonzaga é considerado o primeiro cineclubista brasileiro.

Tanto a informalidade, prima irmã da efemeridade sempre foram marcas permanentes do cineclubismo brasileiro, daí somente em 13 de junho de 1928 é que teremos o “Chaplin Club”, o primeiro cineclube constituído formalmente, com Estatuto e Diretoria eleita.

No final dos anos de 1950 e início dos 60, os cineclubes brasileiros, além de se reunirem em um encontro nacional chamado de jornada nacional de cineclubes, 1959. Eles criaram uma entidade de representação nacional chamada de Conselho Nacional de Cineclubes, 1962. Também surgiram por inspiração dos cineclubes instituições importantes do cinema brasileiro como as cinematecas do Rio e a de São Paulo, os Festivais de Gramado, Brasília, a Jornada de Cinema da Bahia, O Festival de Cinema do Ceará, o Guarnicê de Cinema e Vídeo do Maranhão, o Festival de Cinema de Cuiabá, entre várias.

Saguão do Cineclube Bixiga, São Paulo, 1983

Nos atribulados anos sessenta, os cineclubes iniciam uma mudança de postura, mais política em favor da valorização do produto e da cultura brasileira. Durante a realização da 7ª Jornada Nacional, 1968, se posicionam contra a o Regime Militar. O então presidente da entidade, o cineasta Leon Hirszman e o eleito Geraldo Veloso, que não tomou posse, saíram fugido de Brasília com a polícia em seu encalço. Com a edição do Ato Institucional nº 5 – AI-5, as entidades e a imensa maioria dos mais de 600 cineclubes existentes no país, deixam de existir. Alguns cineclubistas aderiram à luta armada.

Em 1974, durante a realização da 8ª Jornada Nacional de Cineclubes em Curitiba, os cineclubes se reorganizam, se posicionam contra a Censura, contra o Regime e defendem um cinema “nacional e popular”. Neste período cria-se uma Distribuidora de filmes – Dinafilme -, como alternativa de difusão para o filme de produção independente. A distribuidora é invadida, uma, duas, três vezes pela Polícia Federal, mais de 200 filmes são apreendidos, cineclubistas são fichados e investigados.

O cineclube Bixiga criado por recomendação da 14ª Jornada Nacional, 1981, serviu de modelo de exibição, cujo resultado é as redes de exibição: Espaço Itaú de Cinema; Estação Botafogo entre outras existentes no país.

14ª Jornada Nacional de Cineclubes, Campo Grande, 1981.

Por várias vezes os cineclubes organizaram passeatas contra o fechamento dos cinemas de rua e contra a transformação de cinemas comerciais em “Salas Especiais”, que permitiram a entrada, exibição e a produção do filme pornográfico no país.

No início dos anos de 1990, o país elege seu primeiro presidente pelo sufrágio universal, o vídeo cassete se consolida, a queda do Muro de Berlin, o avanço do neoliberalismo, o engodo da proclamação do fim da história, o retrocesso dos movimentos sociais e do sindicalismo, o governo eleito decreta o fim da Embrafilme, empresa que produzia e distribuía os filmes brasileiros, a liderança cineclubista de então, não consegue evitar o enceramento das atividades.

Guerreiro da luz, estrelaguia do cineclubismo brasileiro - Luiz Orlando da Silva

Com a eleição do presidente operário Luís Inácio Lula da Silva e cumprindo determinação do seu programa de governo, tem início no Ministério da Cultura, um processo de reorganizar o Movimento Cineclubista. Ao mesmo tempo e sem conhecimento da iniciativa do governo federal, um grupo de cineclubistas paulistas dava inicio, junto à prefeitura de São Paulo, governo Marta Suplicy, ao projeto “Cine Móvel” de exibição de filmes na capital e grande São Paulo, visando, ao final rearticular os cineclubes. O encontro das duas iniciativas culmina com a realização da 24ª Jornada Nacional de Cineclubes, 2003, dentro da 36ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que recolocou os cineclubes na cena cultural brasileira.

"El Cucaracho, baiano", cineclubista, cineasta, começou no cineclube Santa Fé, Argentina, radicado no Brasil, Lyonel Lucine.

Nestes 10 anos de rearticulação dos cineclubes, foram criados pelos governos (Federal, Estadual e Municipal), mecanismos de acesso a editais e verbas públicas, possibilitando o surgimento de novos cineclubes em todo o país. A presidenta Dilma, cuja formação cinematográfica se deu nos cineclubes, quer criar em seu governo, mais mil cineclubes, junto aos Pontos de Cultura.

"O africano, nascido na Ilha da Madeira", portugês, brasileiro, advogado, estrategista, cineclubista, o nosso portuga António Gouveia Junior

Os cineclubes acumularam experiência no campo da formação, distribuição e da difusão cinematográficas, com habilidades que lhes possibilitam formarem um circuito exibição do “filme cultural”, efetivando a criação, a formação e o divertimento de novas platéias em detrimento daquele sistema de consumo ligeiro do filme. O projeto já existe, merecendo apenas, destiná-lo parte dele, a este propósito.

Diogo Gomes dos Santos
cineclubista, cineasta


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