CINEMA PARADISO - DE AMIGO PARA AMIGO
O encanto
deste filme está ancorado em alguns elementos da linguagem cinematográfica e
que seria salutar lembrá-las aqui, em função do que você se propõe em seu
artigo, suponho.
Salvatore de Vita, o cineasta personagem,
aprendeu a gostar e depois elaborar suas imagens, com uma filmadora rudimentar,
enquanto projecionista vendo pedaços de filmes e depois projetando a assistindo
aos filmes no cinema da sua cidade. Seu conhecimento se torna tão eficaz, porque
ele ver, faz e rever. Com isso ele aprende a apreender. No futuro isso o tornou
renomado em sua profissão, graças ao seu aprendizado na arte seletiva do olhar, o filme, iniciada pelo mestre projecionista
Alfredo.
Toda a
geração de cineastas brasileiros que criaram o movimento denominado de Cinema
Novo, com exceção de Eduardo Coutinho e Joaquim Pedro de Andrade que tinha um
pouco de conhecimento de cinema, todos os demais aprenderam e viraram cineastas
depois de verem e discutir muitos filmes. Aprendizado que obtiveram nos
cineclubes dos quais participaram e dos filmes que assistiam nos demais
cineclubes e cinemas da cidade. Todos eles passaram pelo movimento de
cineclubes, os cineastas do cinema novo “... fizeram uma ligação entre o ato de
ver e o ato de fazer cinema.”, (Pedro Simonard, pág. 44 - A
Geração do Cinema Novo, para uma antropologia do cinema, editora Mauad X, 2006,
RJ)
“Voltando os olhares para o Cineclube,
este é inseparável do Cinema, na medida em que nasce do mesmo se tornando
atualmente um movimento independente, influenciando e sendo influenciado
diretamente pelo cinema, que é o objeto principal de estudo dos militantes
cineclubistas. Dessa forma o Cineclube da UFT em Tocantinópolis, utiliza desta
arte como ferramenta pedagógica”. Pág. 57 – TCC do Cinecclube da UFT.
Neste sentido, olhando para os
resultados do Cineclube da UFT e o filme Cinema
Paradiso, não é só o personagem Totó que seduzido no fascinante universo das
imagens em movimento, que são verdadeiros tesouros que povoam as telas daquele
cinema, mas também as telas dos cineclubes de hoje, onde o público se
identifica, se encantam, se seduzem e se embriagam não só com o menino
fascinado com aquelas imagens, mas também o público, que também tem ou está
formando sua própria memória cinematográfica. No filme, eles são conduzidos pelo ritmo das imagens, que são
acentuadas pelo tom melancólico da trilha sonora do filme (Ennio Morricone), fio
condutor de toda memória afetiva do filme.
A outra
questão que encanta no filme é a interpretação da dupla de atores, o
carismático (Philippe Noiret) como o mestre Alfredo, ao lado de seu aprendiz, o
pequeno Totó, que conquistam o público com seu irresistível magnetismo que
existe, no contra ponto do velho e da criança, realçada na interpretação
atraente de (Salvatore Cascio) Totó criança.
A medida
que o NEAF/UFT e o Cineclube, desenvolvem este diálogo dentro do espaço
acadêmico, revelam a sua importância para a quebra dos preconceitos que ao
longo do tempo se tornaram estruturantes da sociedade brasileira. Para, além
disso, propicia ao público uma formação por meio do debate, que vai de encontro
ao que é proposto pela Lei 10.639/2003:
Pág. 59 – TCC do Cinecclube da UFT.
Na primeira fase do
Movimento Cineclubista, 1959 a 1968 aconteceram sete Jornadas Nacionais de
Cineclubes, no intervalo entre a 5ª jornada realizada em Fortaleza, CE, em 1965
e os preparativos para a realização da 6ª Jornada que aconteceu em Salvador,
BA, 1967, acorreu o 1º Estágio para
Dirigentes Cineclubistas. A Pré-Jornada só veio acontecer depois da 8ª
Jornada ocorrida em Curitiba, fevereiro de 1974.
Naquele Estágio, Walter da
Silveira, em conferência para os dirigentes cineclubistas, fez algumas
considerações, tidas como revolucionárias para aquele encontro, disse ele que
os cineclubes: “Deve-se abandonar a projeção em recinto fechado e ir projetar
filmes em bairros, na rua. Deve-se
também entregar os cineclubes às universidades, não aos grêmios, convencendo os
institutos de ensino que o cineclubismo deve ser um departamento das suas
atividades” (grifo meu).
Digo isso porque lendo o
TCC do Klisma, sob sua orientação, acho que as teses do Walter da Silveira,
finalmente encontraram eco nas atividades do cineclube da UFT, com as quais,
depois de só agora tomar conhecimento, concordo ambas.
Existem outras
experiências no campo cineclubista que não são excludentes e que este
“profissionalismo” do qual falava o Walter da Silveira, que comportar também, outras
experiências cineclubistas, inclusive nas Universidades. A que verificar as
atividades do Cineusp e o Cineclube Janela Indiscreta da UESB, além um circuito
de exibição cultural, tendo a experiência cineclubista, onde estes possam
interferir na vida econômica do cinema brasileiro.
Tenho algo em torno de 30
TCCs e Teses sobre cineclubes e mais uns 6 a 8 livros. O TCC do Cineclube da
UFT é o único, salvo exceções apontadas, que vai na direção do que disse Walter
da Silveira e do que está citado na pág. 59 do TCC do cineclube da UFT.
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* Texto solicitado pelo Professor Dr. João Batista de Jesus Felix, titular na cadeira de Ciências Sociais da Universidade Federal de Tocantinópolis - TO.
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